Estereotipias do Autismo: o que são e como lidar?

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Mariana começou a notar algo diferente no comportamento de seu filho Lucas. Ele passava minutos girando um carrinho entre os dedos, observando as rodinhas sem nunca empurrá-lo pelo chão. No parque, enquanto as outras crianças corriam, ele permanecia parado, balançando o corpo para frente e para trás. Foi então que Mariana ouviu pela primeira vez o termo estereotipias do autismo e se perguntou: isso é normal? Devo me preocupar?

As estereotipias do autismo são comportamentos repetitivos comuns em crianças autistas. Elas podem incluir movimentos com as mãos, balançar o corpo, repetir sons ou até mesmo manipular objetos de maneira padronizada. Para quem não conhece, podem parecer estranhas, mas têm um papel essencial no desenvolvimento e na regulação sensorial do autista.

Criança autista realizando movimentos repetitivos como forma de regulação sensorial.

O que são as estereotipias no Autismo?

As estereotipias são movimentos repetitivos ou padrões de comportamento que ocorrem com frequência em crianças autistas. Eles podem se manifestar de diversas formas, como:

  • Movimentos motores: balançar o corpo, flapping das mãos, pular repetidamente.
  • Vocalizações repetitivas: ecoar frases, emitir sons ou repetir palavras sem uma intenção comunicativa clara.
  • Fascinação por padrões ou texturas: girar objetos, alinhar brinquedos de maneira obsessiva, tocar superfícies específicas.

Para quem observa de fora, pode parecer um comportamento sem sentido, mas para quem está dentro do espectro, essas ações possuem um propósito real e importante.

Por que as estereotipias acontecem no Autismo?

Quando Mariana finalmente conseguiu um diagnóstico para Lucas, sua maior dúvida foi: “Mas por que ele faz isso?” A neuropsicóloga explicou que as estereotipias têm diferentes funções, que variam de criança para criança.

Para algumas, esses movimentos repetitivos servem como uma forma de autorregulação sensorial. O mundo pode ser um lugar caótico para quem percebe os estímulos de maneira amplificada. O barulho do trânsito, a textura da roupa, a luz fluorescente piscando… tudo pode se tornar um turbilhão. Movimentos como balançar o corpo ou bater as mãos ajudam a reduzir essa sobrecarga.

Outras crianças utilizam as estereotipias como uma forma de expressão emocional. Quando estão felizes, podem girar no próprio eixo. Quando estão ansiosas, podem esfregar as mãos. É uma forma de dizer ao mundo como se sentem, mesmo sem palavras.

Além disso, há também um aspecto neurológico envolvido. O cérebro autista processa informações de maneira diferente, e as estereotipias podem ser uma forma de estruturar a realidade e encontrar conforto em um mundo que, muitas vezes, parece imprevisível.

As estereotipias devem ser eliminadas?

A primeira reação de Mariana foi tentar impedir Lucas de repetir os movimentos, acreditando que isso o ajudaria a “se encaixar”. Mas a terapeuta explicou que nem todas as estereotipias precisam ser interrompidas.

Se o comportamento não causa danos físicos (como bater a cabeça contra a parede), não impede a criança de interagir e não interfere em seu aprendizado, então ele pode ser aceito como parte da identidade do autista.

Forçar a eliminação das estereotipias sem oferecer alternativas pode aumentar a ansiedade e prejudicar o bem-estar da criança. O mais importante é entender o que está por trás desse comportamento e encontrar formas de ajudá-la a se sentir confortável e segura.

Como lidar com as estereotipias de forma respeitosa e eficiente?

Depois de entender melhor o que eram as estereotipias e sua função, Mariana começou a observar Lucas de outra forma. Agora, em vez de tentar simplesmente interrompê-las, ela começou a buscar estratégias para ajudá-lo quando necessário.

1. Entenda o contexto

Cada comportamento tem um gatilho. Lucas, por exemplo, balançava o corpo quando havia muito barulho ao redor. Então, Mariana começou a oferecer fones de ouvido com cancelamento de ruído, reduzindo a necessidade desse movimento.

2. Ofereça alternativas sensoriais

Brinquedos sensoriais, bolas antiestresse, tecidos macios ou objetos de texturas diferentes podem ajudar a criança a se regular sem precisar recorrer a estereotipias que possam ser prejudiciais.

3. Use estratégias de comunicação

Se a estereotipia for uma forma de comunicação, ensinar meios alternativos pode ser uma boa solução. Alguns autistas se beneficiam do uso de cartões de comunicação visual ou de dispositivos de fala.

4. Respeite o tempo da criança

Ao invés de tentar “tirar” um comportamento, é mais produtivo introduzir novas formas de expressão e permitir que a criança escolha o que funciona melhor para ela.

Mariana percebeu que, ao invés de reprimir Lucas, precisava ensiná-lo a conviver com suas estereotipias de forma saudável e integrada à sua rotina.

As Estereotipias no Autismo são sinal de problema?

Uma dúvida que muitos pais têm é se a presença de estereotipias significa que a criança tem uma maior dificuldade de aprendizado ou de interação social. A resposta é: não necessariamente.

Pessoas autistas podem ter habilidades incríveis e desenvolver estratégias para viver bem dentro do espectro. Grandes cientistas, artistas e inventores tinham traços autistas e possivelmente exibiam estereotipias. O que realmente importa é oferecer suporte adequado e respeitar o tempo e a individualidade de cada um.

Conclusão

Olhando para Lucas agora, Mariana vê seu filho de maneira diferente. Seus movimentos repetitivos já não a assustam mais. Ela entende que cada um deles tem um significado e, acima de tudo, respeita o tempo e as necessidades dele.

As estereotipias do autismo não devem ser vistas apenas como “um problema a ser corrigido”, mas como parte do jeito único de ser de cada criança. Com respeito, paciência e informação, é possível criar um ambiente mais acolhedor para todos e por isso, conte com o Espaço Terapêutico Cinthia França.